A segunda pergunta da Dani foi "Vc acredita que muda a relação com as pessoas?". (se vc não sabe porque estou respondendo perguntas, olhe a postagem anterior)
Confesso que para responder essa pergunta, eu precisaria de uns 10 posts. Mas vou tentar resumir.
A resposta objetiva: MUDA. Agora vou explicar...
Muda sim, Dani e amigos. Muita gente (muita gente mesmo) não entende o processo da obesidade como doença e acha que o único efeito da cirurgia bariátrica é emagrecer. Não vou dizer que esse é o menor dos efeitos porque em "peso", ele "pesa" bastante... risos... Mas há tantos outros efeitos/consequências que fica até difícil de enumerar.
Por que muda? Acho que já respondi parte disso na postagem anterior, mas vamos lá.
Muda porque eu mudei e portanto, não dá pra manter o mesmo "ritmo", digamos assim.
Muda porque precisava ter tempo para mim e isso implicava em menos tempo para os outros.
Muda porque passamos a não engolir alguns sapos. Os "girinos" continuo a engolir (quem não faz isso?), mas descobri que os sapos são intragáveis e só são digeridos com muita comida. Como não consigo mais comer muito, então eles não descem mais.
Muda porque passei a me olhar e me respeitar mais, a entender meus limites e mostrar pras pessoas que também os tenho e que vou respeitá-los.
Muda porque aprendi a dizer NÃO e decididamente, as pessoas não gostam disso.
Muda porque aprendi a dizer ESPERA e as pessoas ficam impacientes.
Muda porque as pessoas gostavam da "Paula, gorda legal"... mas tem dificuldade com a minha verdadeira versão.
Muda porque agora eu também não preciso ser legal o tempo todo! O pensamento do obeso, inconscientemente, é muito assim: "preciso ser pelo menos legal, porque já estou muito fora do padrão". Aí, vc pensa que isso é besteira! Mas no seu dia-a-dia, é exatamente assim que age com o obeso.
Muda porque as pessoas se acomodam as situações e aos outros e quando algo muda, isso torna as situações desconfortáveis. Viva as teorias sistêmicas!
Muda porque precisei cuidar de mim e descobri que muita gente que era cuidada por mim, não tinha/tem disposição/disponibilidade para cuidar de mim. Essa foi a parte que mais doeu... em muitas situações me senti descartada, porque já não servia mais para cuidar, então havia o afastamento... doía!
Mas hj, reconheço que isso foi uma "benção" porque assim reconheço com maior clareza quem são os verdadeiros, os leais e os "concretos" (em oposição aos "líquidos"... alguns entenderão!).
Tem uma música que tem feito muito sentido nesse processo:
"Eu ainda estou aqui
Perdido em mil versões
Irreais de mim
Estou aqui por trás de todo o caos
Em que a vida se fez
Tenta me reconhecer no temporal
Me espera
Tenta não se acostumar
Eu volto já
Me espera
Eu que tanto me perdi
Em sãs desilusões ideais de mim
Não me esqueci
De quem eu sou..."
Se quiser ouvir inteira https://www.letras.mus.br/sandy/me-espera/
E termino com um outro trecho que tem feito muito mais sentido: "é sobre ser abrigo e também ter morada em outros corações..." (Ana Vilela - in: Trem-Bala)
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