sexta-feira, 3 de março de 2017

Respondendo a perguntas - parte 1 (sobre meu tempo comigo mesma)

Hoje, inauguro um novo espaço no blog. Começo a responder perguntas específicas que me foram feitas durante esse período. Se vc tem alguma pergunta, pode mandar por aqui, e-mail, WhatsApp, sinal de fumaça... 
Além disso, não deixe de clicar no botão para "seguir" o blog tá?

A primeira pergunta que vou responder (ou tentar) é de uma amiga muito querida, Daniela Frozi. Conheci a Dani há anos, quando trabalhos juntas na ABUB. Hoje, ela é pesquisadora que estuda a obesidade (ela é nutricionista e faz seu pós-doutorado estudando a obesidade em mulheres de baixa renda). 

A Dani me fez umas perguntinhas em dezembro e, com sua autorização, começarei a respondê-las publicamente hoje. E a primeira pergunta da lista não foi exatamente uma pergunta, rs. Ela escreveu: "sinto falta de vc falar sobre seu tempo com vc! A obesidade tem uma relação forte com o modo de vida. Precisamos entender o que acontecia antes além de agora." Então lá vai!

Pois é, gente, pelo que tenho visto e ouvido, parece haver um padrão de comportamento muito semelhante entre os obesos: não cuidar de si mesmo! Os argumentos/desculpas para isso são muito parecidos também: falta de tempo e/ou priorizar o outro.  Mas pra não ficar falando dos outros, falarei da minha experiência.

Quem me conhece um pouco mais de perto, sabe que sempre me dediquei muito a cuidar dos outros. Em todos os lugares por onde passei e estive, sempre fui aquela que ouvia e ajudava os outros. Me dediquei a isso com intensidade e dedicação máxima. Se vc precisasse de mim, eu estaria lá, não importava a que custo fosse. Isso sempre acontecia em, talvez, 90% das vezes (pelo menos, a partir da minha perspectiva das coisas). Quando não era assim, era porque não tinha dependido de mim, ou seja, aqueles fatores que extrapolam o nosso controle, me "atrapalhavam" e eu não conseguia estar, como tinha dito que estaria. Quando isso acontecia, eu ficava mal! Não gostava de falhar com os outros (não gosto ainda, mas...)!
Isso era quase uma obsessão a ponto de que nos últimos anos, eu ía pra igreja para os cultos e atividades com uma "agenda" de atendimentos para fazer (obs: não faço terapia com gente conhecida, então só uso a expressão atendimento, por força do hábito. Ou seja, eram somente encontros para um bate-papo). Até mesmo os jantares com amigos, tinham uma conversa/compartilhar/ajuda programada. Na universidade, também não era diferente...
As coisas chegaram num nível desastroso para mim: eu tinha uma agenda com compromissos agendados com mais de 1 ano de antecedência, todos os finais de semana com agenda completa (compromissos em todos os períodos no sábado, e as vezes no domingo) e não tinha hora nem pra ir ao mercado, ou comprar um presente, roupa, etc. Cozinhar era luxo; não dava tempo... e quando tinha tempo, não tinha disposição ou faltavam ingredientes. Não sei se entendem isso, mas era tipo assim: se vc me convidasse pra tomar um sorvete na esquina, eu provavelmente não poderia porque já tinha um compromisso agendado com x meses de antecedência. Muitas refeições eram feitas enquanto discutíamos problemas à serem resolvidos.
Quando decidi operar e comecei os acompanhamentos, tanto o Dr Fabio (gastro) quanto a Rosalia (psicóloga) já tinham me dito pra puxar o freio de mão. Comecei a recusar convites pra palestras, adiar compromissos, mas ainda estava numa "vida louca".
No pós-cirúrgico, um dia estava discutindo com a Dyandra (nutri) sobre a dieta e ela me sugeriu algumas coisas e eu disse que era complicado porque demandaria um tempo de preparo que eu não tinha. Ela sinalizou que algo estava errado. Saí da consulta com ela e fui encontrar a Rosalia (sempre vejo as 2 no mesmo dia, na sequência). Daí, tomei um "esculacho", no bom sentido! Basicamente, o que ouvi foi: se vc não cuidar de vc, todo esses esforço terá sido em vão porque vc não mudou seu estilo de vida. Saí de lá incomodada mas me "defendendo" e pensando que não era bem assim... comentei com o Lu e ele disse que elas estavam certas e que eu só tinha operado e não tinha mudado mais nada. Comecei a chorar! "Puxa! Será que ninguém via meu esforço para mudar???" Mas por dentro, meu choro era porque eu sabia que eles tinham razão.
Conversei mais com o Lu sobre isso, com meus pais e decidi que teria que parar com alguma das atividades que eu fazia.  Muitas das atividades eram na igreja, eu estava tentando o doutorado, fazia pós-graduação a distância, trabalhava... tinha que parar com algumas dessas coisas. Foi muito sofrido escolher o que e como!
Cheguei a conclusão mais óbvia possível: não dava pra entrar num procedimento cirúrgico radical como o que fiz e manter o resto igual. Eu sou obesa (sim, igual os dependentes químicos e afins) e precisava atentar para todas as coisas que tinham implicações nisso para no futuro não olhar pra trás e pensar que devia ter feito algo que não fiz. Não tinha essa opção! Eu já tinha operado e agora, estava disposta a fazer TUDO o que precisasse para que desse certo. Sim, porque não é só operar: tem que mudar hábito alimentar, tem que fazer atividade física, tem que mudar rotina, tem que mudar a cabeça, tem que mudar o estilo de vida...
Conversei com o pastor Sergio que prontamente entendeu a situação e me apoiou. Além das atividades na igreja que eu liderava ou auxiliava, reorganizei a minha vida e decidi que durante esse período, o Lu cuidaria da minha agenda. Quem conhece nós 2, entende bem as implicações disso... kkkkkkk

O resultado foi excelente! Passei a ter tempo para cuidar de mim, para minhas atividades físicas, voltei a cozinhar, cultivei uma horta em casa, comecei a cuidar das minhas plantas, consegui organizar a casa, os brinquedos dos meninos... enfim...  
Passei a ter mais tempo com minha família, a dedicar-me mais aos meninos e ao Lu, a cuidar melhor deles e ter até tempo para fazer agrados (ver filme/desenho, cozinhar coisas que eles gostam...)
E mais! Passei a ter tempo pra mim: de fazer minha unha (sim, eu mesma faço), de ir ao cabeleireiro com mais frequência, voltei a ler (paixão quase abandonada porque o sono/cansaço não me deixava forças para ler), tocar violão (sim, até cantava junto... 🙉), ...

Agora, o que quero que percebam, é que esse padrão de comportamento de "vida louca", de agenda cheia, não era de agora! Sempre foi assim! Só foi se intensificando... sem limites... sem fim!


Acho que muita gente não entendeu essa decisão de mudar a agenda. Mas isso fica pra outro post...




Nenhum comentário:

Postar um comentário